Cá estamos nós no início de novembro.
Outubro levou um ano pra passar e ao mesmo tempo não vi ele passar. Muitas coisas deram errado nesses últimos meses, uma daquelas fases onde tudo quebra e se algo pode dar errado, dará. Mudamos de casa, agora moramos eu, marido, filho mais novo e gato na casa da minha mãe.
Como em toda mudança, tivemos que pintar o apartamento pra entregar pra imobiliária. Resolvemos pintar nós mesmos pra economizar a grana da pintura, o que sempre, SEMPRE, acaba sendo um erro porque uma coisa é pintar uma linda parede verde musgo na sua sala, outra é cobrir essa cor super escura até ela voltar a ficar branca. Milhões de demãos de tinta nas paredes coloridas da casa, portas e mais portas pra serem pintadas, paredes brancas infinitas, um trampo INSANO (valorizem o trabalho dos pintores de parede) e aí eu caí da escada. Sim, eu caí da escada. De um escadinha de 2 degraus. Meu pé escorregou pra dentro da escada quando tava descendo e pisando no primeiro degrau, tomei um capote com a perna enroscada na escada na altura do joelho, bati com a bunda no chão e arranhei meu braço na escada metálica maior que tava do lado. E me arrebentei muito. Fui parar na UPA. Não quebrei a perna que doía muito e que tava enorme e roxa (ufa!) e nem o cóccxis, que também tava doendo (porém meu ciático doeu durante dias…), mas, por outro lado, algo estourou ali dentro. Uma veia talvez? Alguns vasinhos? Nunca saberemos. Só sei que esse sangue todo resolveu correr do joelho pra baixo chegando até o meu pé nos dias seguintes e agora eu tenho uma perna e um pé de zumbi inchados, com uma bolota dura do lado do joelho e manchas roxas enormes que doem muito em alguns momentos do dia. E, claro, atrasamos a entrega do apartamento. Paralelamente, o moço que veio instalar a rede de proteção (no apartamento já tinha rede pra criança, mas não pra gato) furou um cano do chuveiro. Chama o encanador. Quebra a parede com azulejos dos anos 70 impossíveis de achar pra comprar (e se achar custam a reforma de um banheiro novo), o encanamento de cobre também dos anos 70, uma merda pra arrumar. Outras várias coisas também andaram dando errado, mas chega dessa bad vibe.
Eu ainda não consegui assimilar muito bem o fato de eu estar morando com minha família na casa da minha mãe. Não que eu esteja em negação, eu sei exatamente o que tá acontecendo e o porquê de ter acontecido, mas é como se estivesse flutuando em uma realidade paralela. Me sinto hospedada na casa de alguém (eu detesto me hospedar na casa de outras pessoas, não importa o nível de intimidade que eu tenha com ela, fico muito desconfortável), só que nunca vou embora pra minha casa. Eu tento me apegar nas coisas positivas de morar com ela, a maioria relacionadas com questões financeiras, mas tem umas coisas legais tipo a vista da janela que dá pra ver o espigão da Av. Paulista, o silêncio noturno, muito diferente do inferno que os motoboys faziam durante a madrugada na porta do delivery de bebidas que fica na frente da janela do quarto no 1° andar… Sei lá, deve ter algo mais, mas agora não consigo lembrar…
Antes de mudar consultei uma taróloga (eu também sou taróloga, alguns de vocês sabem disso, mas sempre bom ouvir os conselhos vindos de outra bruxa) que me disse que o segredo pra eu sobreviver a essa situação é tentar ficar invisível o máximo possível. E é o que venho tentando fazer, sobreviver e ficar invisível.
Lar nunca foi sobre uma casa, ou um grande quintal, um clima agradável. Lar é sobre um lugar que faz você ser você mesmo.
🎬 Filmes, Séries e coisas que andei assistindo:
👼👿 Good Omens. Há anos que eu tentava gostar de alguma coisa do Neil Gaiman e não conseguia. Tentei ler livro, quadrinho, assisti filme, nem a Coraline tinha conseguido conquistar meu coração. Como eu considerava isso uma falha no meu caráter continuei tentando até que cheguei na série Good Omens, que é baseada em um livro dele e do Terry Pratchett. E que delícia de série. Não tem como não se apaixonar pelo anjo Aziraphale e pelo demônio Crowley (interpretados divinamente pelos atores Michael Sheen e David Tennant) que, por terem vivido muito tempo na Terra, se apegam ao estilo de vida do planeta e tentam impedir o fim do mundo. Aquele tipo de série que quando a temporada acaba você não vê a hora de uma nova ser lançada. Na Amazon Prime Video.
🌏💣Years and Years. Uma mini série inglesa que mostra a vida de uma família durante 15 anos em um mundo distópico. O legal dessa série, ou não, é que esse futuro distópico não está muito distante do que vemos acontecer no mundo atualmente. A série conta com a maravilhosa Emma Thompson no elenco, que interpreta uma primeira-ministra populista e extremista enquanto, ao mesmo tempo, vemos a tecnologia avançar rapidamente em um mundo que está colapsando. Qualquer semelhança com o que vivemos hoje não é mera coincidência. Você fica meio traumatizado depois que termina a série? Fica. Mas é um tapa na cara muito bem dado. Infelizmente não tem em nenhum streaming disponível no Brasil, eu assisti usando o bom e velho e burlando a lei método de baixar mesmo.
🥖 Receitinha
Talvez nem todos aqui saibam, mas eu sou padeira amadora. Ok, nem tão amadora assim, mas não chego a ser profissional. E nesses anos todos de panificação percebi que, como em tudo, existe muita cagação de regra sobre como você deve ou não fazer o pão e isso acaba causando um pouco de medo nas pessoas em tentar. E, sim, existem receitas e técnicas mais elaboradas que exigem um pouco mais de conhecimento, mas pra fazer pão pro dia a dia não é necessário tudo isso. E nem usar farinha importada especial, fermento natural, nem batedeira, nem ficar sovando massa enlouquecidamente até cair seus braços. Na pandemia o pão sem sova virou moda e todo mundo tentou fazer. Eu gosto muito de usar o método de dobras pra sovar. Vi a primeira vez o Luiz Américo Camargo usando esse método e tornei ele o “meu” método depois que comprei o livro Pães do Emmanuel Hadjiandreou (ele trabalhou um tempo com o Gordon Ramsay). As receitas dele são as melhores que já fiz. Porém, deixo aqui o link pra receita do Pão Nosso do Luiz Américo (confesso que fiquei com preguiça de copiar aqui alguma receita do Emmanuel, vocês me perdoem) que é bem fácil e relativamente rápida de fazer, daquelas receitas coringas quando você quer servir um pão assado por você mesmo, resultando em um tipo de baguete rústica que lembra um pouco a massa da foccacia (inclusive já usei essa mesma massa pra fazer e deu bem certo). E não tenha medo de usar a farinha mais barata do mercado, de borrifar água no seu forno caseiro ou de usar uma tigela de inox pra cobrir o pão na forma de pizza no lugar da panela de ferro (eu uso uma panela de barro daquelas de moqueca). Vai dar certo.
📣 Fica a dica
✍“Saí de uma prisão”: você tem síndrome de salvadora? Como se libertar dela. Texto muito bom sobre as mulheres que acabam se anulando tentando salvar todos ao seu redor menos elas mesmas. Me identifiquei demais lendo esse texto.
O primeiro passo é entender o que há por trás dela: desde a infância as mulheres são ensinadas a cuidar e a se preocuparem com as necessidades de todos ao redor, principalmente por causa dos papéis de gênero atribuídos à maternidade e às funções reprodutivas.
"Na chamada socialização feminina, as mulheres aprendem a abdicar de si mesmas pelos outros, pelo cuidado das pessoas ao redor, e a estarem sempre muito atentas às necessidades alheias. Isso é aprendido desde cedo, o que faz da 'síndrome da salvadora' uma das formas de anulação feminina na cultura patriarcal"
✍Why the Internet isn’t fun anymore. Excelente texto sobre o declínio e a decadência das redes sociais. Em inglês.
✍Quando a guerra chega, a primeira baixa é sempre a verdade Sobre escolher lados em tempos de guerra.
🧌Terror no Cinema Tá rolando em São Paulo no MIS. Ainda não fui, mas as exposições no Museu da Imagem e do Som nunca deixam a desejar, são sempre absolutamente maravilhosas. Só até 19/11.
“O público terá a oportunidade de adentrar o universo de filmes clássicos do cinema, … . Dividida em setores temáticos, dedicados a subgêneros do terror …, a exposição transporta os visitantes à atmosfera dos longas com estímulos sonoros, visuais e olfativos, de forma lúdica e informativa.”
💻Jornalista com Tempo Sobrando Meu queridíssimo afilhado de casamento Dell Soares escreve e escreve muito. Em sua newsletter ele fala sobre música, cinema e sobre a vida, como no ótimo texto Meu casamento não é da sua conta sobre a discussão da PL580/2007 e a proposta super retrógrada e escrota de proibir casamentos homoafetivos.
🖼️The Public Domain Review Um site dedicado a explorar obras de arte, literatura etc que agora estão em domínio público e podem ser usadas à vontade. Tem muita coisa maravilhosa e em alta definição.
📷Instagram
Helle Mardahl é uma artista de vidros. O trabalho dela usa muito bem as formas arredondadas que surgem ao assoprar o vidro quente resultando em peças magníficas em tons pastéis.
Sobre se sentir hospedada em um lugar estranho, eu entendo bastante. Por motivos financeiros ainda não consegui ir pro meu apartamento (o que parece um contrassenso, já que o apartamento é meu, mas móveis planejados custam uma fortuna), estou morando na minha sogra, e é muito esquisito. Eu fico à vontade, mas não é minha casa. Eu tinha um sentimento parecido morando na casa da minha mãe, e acho que a última vez que eu me senti de verdade no meu lugar foi quando eu morei no Butantã, num quarto com pia e geladeira. Ali era só eu e minhas neuras. Eu tento pensar que é só uma fase, que logo passa, mas a sensação de estar perdendo tempo continua. Ao menos é um lugar seguro, no sentido de não matar minha sanidade mental.